Carregada com a toxina melitina, a partícula consegue romper o envelope de proteção do vírus HIV
A toxina melitina é eficaz em romper o envelope duplo de alguns vírus, como o HIV (Thinkstock)
Uma toxina presente no veneno de abelhas pode ajudar a combater o vírus do HIV. Em uma pesquisa publicada no periódico Antiviral Therapy,
pesquisadores da Universidade de Washington conseguiram que uma
nanopartícula carregada com a toxina melitina destruísse o vírus.
Segundo eles, a descoberta pode ser um passo importante no
desenvolvimento de um gel vaginal eficaz em prevenir a disseminação do
vírus causador da aids.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Cytolytic nanoparticles attenuate HIV-1 infectivity
Onde foi divulgada: periódico Antiviral Therapy
Quem fez: Joshua L Hood, Andrew P Jallouk, Nancy Campbell, Lee Ratner e Samuel A Wicklinen
Instituição: Universidade de Washington, EUA
Resultado: Nanopartículas carregadas com a toxina melitina
(encontrada no veneno de abelhas) foram eficientes em destruir a capa
protetora do vírus HIV. Ao matar o vírus causador da aids, essa
partícula preveniu a disseminação do vírus.
A toxina melitina, presente no veneno da abelha, tem uma ação tão
potente que consegue fazer pequenos buracos na camada protetora que
envolve o HIV — assim como outros vírus. Quando essa toxina é colocada
dentro das nanopartículas, no entanto, as células normais não são
prejudicadas por sua ação. Isso porque a equipe de pesquisadores
adicionou uma espécie de pára-choques de proteção em sua superfície.
Assim, quando entra em contato com uma célula normal, que é muito maior
em tamanho, a nanopartícula se afasta. O vírus do HIV, por outro lado, é
menor do que a nanopartícula, cabendo no espaço existente entre esses
pára-choques. Ao fazer contato com a superfície da partícula, o HIV
entra em contato também com a toxina da abelha. “A melitina forma
pequenos complexos de poros e rompe o envelope do vírus, arrancando esse
envelope”, diz Joshua L. Hood, um dos pesquisadores responsáveis pelo
estudo.
Ataque — Segundo os pesquisadores, uma das vantagens da nova
abordagem é que a nanopartícula ataca uma parte essencial da estrutura
viral: o envelope protetor. A maioria dos medicamentos anti-HIV
disponíveis hoje no mercado atuam inibindo a habilidade do vírus de se
replicar. Essa estratégia, no entanto, não consegue barrar a infecção
inicial, e algumas cepas do vírus acabam driblando o remédio e se
reproduzindo mesmo assim. “Teoricamente, não há como o vírus se adaptar a
nossa técnica. O vírus precisa ter essa capa protetora, essa camada
dupla que o reveste.”
Além da prevenção na forma de gel vaginal, Hood também espera que
essas nanopartículas possam ser usadas como uma terapia para infecções
por HIV já existentes, especialmente aquelas resistentes a drogas. Nesse
contexto, as nanopartículas poderiam ser injetadas no paciente de
maneira intravenosa e, em tese, seriam capazes de eliminar o HIV da
corrente sanguínea.
“A partícula básica que estamos usando no experimento foi
desenvolvida há muitos anos como um produto sanguíneo artificial”, diz
Hood. “Ela não funcionou muito bem para a entrega de oxigênio, mas
circula de maneira segura pela corrente sanguínea e nos dá uma boa
plataforma adaptável para o combate a diferentes tipos de infecção.”
Como a melitina ataca indiscriminadamente membranas duplas, o conceito
não se limita apenas ao HIV. Diversos vírus, incluindo hepatite B e C,
contam com o mesmo tipo de envelope protetor e seriam vulneráveis às
nanopartículas carregadas com melitina.
Contracepção — Embora essa pesquisa em particular não se
refira a métodos contraceptivos, de acordo com Joshua Hood, o gel
poderia facilmente ser adaptado para ter os espermatozoides como alvos.
“Estamos olhando também para casais em que apenas um parceiro tem HIV, e
que querem ter um bebê”, diz Hood. “Essas partículas, por si só, são
bastante seguras para o esperma, da mesma maneira que são para as
células vaginais.”
Embora a pesquisa tenha sido feita em células laboratoriais, Hood
afirma que as nanoparticulas podem ser facilmente fabricadas em grandes
quantias, em volume necessário para testes clínicos.
Fonte: Jeremoabo Agora
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